Monday, September 28, 2009

Programa da SABC3 expõe venda de partes de corpo

O programa premiado Special Assignment “Strong Medicine” da SABC3 feito pela Journeyman Pictures é sobre Inyangas* corruptos que alegaram estar a vender órgãos humanos em Joanesburgo.

A investigação expôs redes de tráfico de partes de corpo humanas em violação da Human Tissues Act (Lei de Tecidos Humanos). As partes do corpo foram vendidas à pessoas desesperadas por curas para doenças e boa sorte financeira.

Um inyanga corrupto foi exposto a trabalhar de baixo de uma ponte em Eloff Street Extension, vendendo o que se acreditava serem partes de corpo humano. O mesmo homem também aparece a apresentar um intermediário na praça de táxis de Faraday, que também tentava vender partes de corpo humano.

Levi Masebe, que trabalha numa funerária em Medunsa na província de North West, também é exposto depois de ele ter vendido duas mãos direitas humanas por R4,000 aos jornalistas.

O programa também conta o caso de uma menina que foi morta pelo seu próprio pai, que se auto-denominava curandeiro, e que a matou à frente da mãe, que disse: "Ele levou-nos para um lugar isolado...onde ele a decapitou e retirou os membros e intestinos e, em seguida, embrulhou-os em um saco plástico. Ele pôs o seu sangue numa cabaça e levou tudo para casa".


*Inyanga: uma pessoa que usa muti para causar danos, lesões, sofrimento, má sorte, curar doenças, proteger contra os maus espíritos e usa misturas de conchas, moedas, ossos, etc, para prever o futuro das pessoas, identificar bruxas, fazer feitiços bons e maus fins (Mpumalanga Witchcraft Suppression Bill, 2007— versão rascunho).

"Suspected Muti Killing" (Suspeita de Homicídio Muti)

(Artigo de: The Phoenix and Verulam Sun Vol.7 No.30 – 30 de Julho de 2009. África do Sul)

Durante a pesquisa da Liga dos Direitos Humanos (2008), verificou-se que a genitália masculina foi a parte de corpo mencionada mais vezes durante as entrevistas.

Os agentes policias entrevistados disseram que havia vários casos de corpos que eram encontrados com partes de corpo em falta, no entanto, segundo estes informantes, estas partes de corpo nunca são encontradas “Mas há muitos casos em que os órgãos humanos são extraídos mas nunca encontrados [...] Nós encontramos muitas vezes corpos sem órgãos ou partes de corpo” (MZ_Na_GI_2).

Quando os informantes entrevistados nesta pesquisa forneciam um exemplo de um incidente onde partes de corpo haviam sido levadas ou encontradas, estes eram questionados sobre a sua opinião acerca do uso destas partes de corpo. Dos 62 informantes que escolheram responder a esta pergunta, 93% acreditavam que estas eram para serem vendidas ou usadas para actividades relacionadas com feitiçaria e muti. O objectivo do uso de partes do corpo nos chamados “homicídios muti” é criar uma medicina tradicional poderosa baseada parcialmente em partes humanas. A medicina tradicional tem uma larga gama de propósitos como por exemplo curar doenças, ajudar a progredir economicamente ou prejudicar os inimigos.

Como parte das práticas muti, alguns feiticeiros fazem uso das chamadas “medicine murder” (mortes por medicamentos tradicionais) ou “homicídios muti”, onde as partes de corpo são removidas dos corpos de pessoas vivas. A intenção não é matar as vítimas como tal, mas espera-se que estas morram devido aos ferimentos infligidos (Ashforth, 2005). Os feiticeiros possuem uma enraizada crença de que as partes de corpo são vitais para que o muti funcione, e é necessário que as vítimas sejam desmembradas enquanto ainda vivas. Acredita-se que os gritos das mesmas tornam o medicamento mais poderoso, na medida em que acordam os espíritos e transmitem-lhes poder. É desta crença que resulta que as vitimas sejam mutiladas enquanto vivas (Griffin et al 2004, Labuschagne 2004). Durante esta pesquisa foram feitos alguns relatos de vítimas que estavam vivas quando as partes de corpo foram extraídas, no entanto um certo número de vítimas mencionadas na pesquisa foram assassinadas e as partes de corpo foram retiradas após a sua morte. Uma médico que foi entrevistado em Moçambique disse “A genitália foi retirada com um golpe bastante preciso, ou provavelmente dois golpes, um de cada lado e assim extraída a genitália. Isso foi feito depois da pessoa já estar morta […] não tinha sinal de sangramento. O que significa que ela estava morta quando a lesão foi feita” (MZ_MC_I_2).

Wednesday, September 16, 2009

"Harsh Sentence for muti-killer", The Star, 264, 14 de Agosto de 2009, África do Sul


Durante a nossa pesquisa de 2008 sobre Tráfico de Partes de Corpo em Moçambique e na África do Sul, um dos nossos informates disse que os feiticeiros podem “incitar as pessoas a cometer assassínios como meio de as tornar ricas”. Outros informantes e Labuschagne (2004) acreditam que o feiticeiro não se envolve em mortes rituais ou em homicídios, mas manda que uma terceira parte o faça. Um dos entrevistados afirmou “eu não acho que o curandeiro sai ele mesmo para matar. Em vez disso, alguns mandam outras pessoas (...) prometendo-lhes muito dinheiro para fazer o trabalho.

Ficou claro durante a pesquisa que muita gente poderia encobrir os feiticeiros por medo. Um dos informantes afirmou “alguém os conhece (feiticeiros, Ed.) mas nunca dirá nada”. Outro informante disse “estão todos silenciados. As pessoas têm medo de falar”. Durante uma entrevista, um informante disse “o Sangoma (Médico Tradicional, Ed.) que vive no nosso bairro foi detido porque a polícia encontrou as partes de corpo na casa dele”. Depois disso o entrevistador foi informado de que o Sangoma foi mais tarde solto da prisão e que continua a exercer na comunidade.

Um blog sobre Tráfico de Partes de Corpo, por quê?


Se procurar no Google “Tráfico de Partes de Corpo”, os resultados que provavelmente irão aparecer são sobre transplantes ou sobre a utilização de órgãos e partes do corpo para fins médicos. No entanto, uma pesquisa realizada em 2008 pela Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, demonstrou que o tráfico de partes do corpo humano ocorre regularmente, tanto em Moçambique como através da fronteira com a África do Sul. A pesquisa revelou que nenhum dos 72 testemunhos relacionados com tráfico de partes de corpo poderia ter resultado em transplantes.

O relatório mostra que os chamados feiticeiros procuraram activamente partes de corpo humano (geralmente através de terceiros) de vítimas vivas para serem usadas na sua medicina, pois é uma crença comum de que a medicina tradicional, quando feita com partes do corpo, é mais forte e mais poderosa.

Para ler o relatório completo do projecto de pesquisa (2008), carregue aqui.

Nos posts seguintes, nós iremos fornecer mais informação sobre este assunto.

Obrigada